Bom, esse final de semana, na verdade sexta e sábado foram dias diferentes. Como quem acompanha o blog sabe, ano passado me afastei de certa forma da ginástica não com a intenção de deixá-la para sempre, apenas com a intenção de me preparar para novas oportunidades e portas que poderão se abrir, e foi com essa intenção que me propus a realizar um curso de arbitragem neste sábado. Porém, como não era em minha cidade tive de me programar a viajar sozinha para que pudesse então realizá-lo. Pesquisei hotéis, horários de ônibus, melhor forma de condução, tudo para ficar mais fácil, mais próximo e mais confortável para mim pois era uma cidade que não conhecia. Comentando com os meus pais sobre a cidade onde seria realizado o curso, eles me disseram que havia uma pessoa conhecida que morava lá e que ficariam muito mais tranquilos se eu fosse com ela ou até mesmo tivesse o contato dela caso precisasse de algo, afinal essa foi minha primeira viagem sozinha após o acidente, com a qual eu teria de me virar sozinha lá.
Para dar mais tranquilidade aos meus pais e ter um respaldo caso necessitasse, tentei entrar em contato com essa moça que mora lá com sua família mas não consegui, então reservei o hotel mais próximo do local aonde seria dado o curso e me programei financeiramente para me locomover de táxi e ônibus. Programei minha saída de Ribeirão até a cidade com bastante antecedência para que chegasse ainda no período da tarde e não ficasse perdida a noite em uma cidade que não conheço. Depois de reservar o hotel, me programar para os horários de ônibus, minha mãe e minha irmã entraram em contato com a família dessa moça e ela logo entrou em contato comigo já sabendo que eu iria à um curso em sua cidade. De imediado me ofereceu carona pois estava aqui em Ribeirão e iria voltar ainda na sexta para a cidade, exatamente no dia em que eu iria para lá. Me ofereceu também estadia em sua casa e que se disponibilizaria a me levar e buscar no curso e depois me levaria até a rodoviária quando fosse retornar a Ribeirão. Aceitei a carona super preocupada em estar dando trabalho à ela e sua cunhada que estava dirigindo, mas elas afirmaram que não, que seria um prazer me levar. Fomos então de carro porém, quanto ao hotel, eu já havia feito a reserva e um depósito de 50% do valor da diária e eles não devolviam o dinheiro, então optei por já ficar no hotel mesmo. Detalhe: optei pelo hotel mais próximo do local do curso, mas um dia antes eles alteraram o local para melhor atender à todos, resumindo fiquei bem longe rs, mas tudo bem!
Saímos de Ribeirão por volta das 18:00h e chegamos ao destino as 21:30h mais ou menos, ela me levou até sua casa, me ofereceu um lanche (nem precisei jantar depois rs) e depois me levou ao hotel por volta das 23:00h. Organizei as minhas coisas e fui ao banheiro para tomar banho e detalhe, ao usar o banheiro vi que a descarga não funcionava, ótimo, quase não tenho vergonha né e tive que chamar o responsável pelo hotel. Ele foi até lá e me propôs à mudar de quarto, o que a princípio não foi muito legal pois no primeiro quarto havia uma cama de casal onde poderia dormir tranquilamente sem medo de cair da cama (o que me acontece às vezes rs), além de que a vista da janela era linda, mas tudo bem. Ele me levou até um quarto com três camas de solteiro, uma vista não muito legal, aliás não tinha uma vista porque dava para um estacionamento de caminhões, mas relevei. Tomei banho, deitei e dormi pois estava estava exausta. Como eu estava sozinha coloquei meu despertador para tocar mas mesmo assim fiquei com receio de não acordar e acabei por não dormir direito, acordando de uma em uma hora para verificar o relógio. Acordei finalmente na hora programada, por volta de uma hora e meia de antecedência do horário do curso que iniciaria às 8:00 da manhã para organizar minhas coisas e desci. Tomei meu café da manhã, pesquisei se havia Uber na cidade, subi para pegar minha bolsa e desci faltando 40 minutos para o horário do curso. Solicitei o Uber e vi então que demoraria aproximadamente 20 minutos para que chegasse até o hotel, o que você faria chegar atrasada. Cancelei o Uber e pedi o moço da recepção do hotel que chamasse um táxi. Após chamá-lo, ele me disse que demoraria aproximadamente 20 minutos, droga, fazer o quê. Respirei fundo e esperei ele chegar faltando 5 minutos para as 8h, perguntei à ele a distância até o local do curso e ele me disse que era do outro lado da cidade mas que para minha sorte a cidade era pequena, ótimo, fiquei super feliz (sqn) e fomos.
Cheguei ao local do curso era 8:10h, entrei correndo achando que estava atrasada mas o curso nem havia começado, melhor para mim rs. Encontrei algumas pessoas conhecidas, as comprimentei e já arrumei um lugar para sentar. Começou às 8:40h, a professora que ministrou o curso é uma árbitra internacional, premiada, incrivelmente inteligente e competente e foi tudo ótimo, a única coisa é que como atrasou para começar tudo ficou atrasado. Tivemos uma pausa para o almoço e voltamos logo pois o curso estava programado para acabar às 18:00h, porém as 18:00h faltava uma parte grande ainda e por mais que eu quisesse esperar não pude, pois tinha que pegar um ônibus da cidade que estava até Campinas pois as 20h saía de lá o último ônibus para Ribeirão. Precisei correr. A moça e seu marido, meus conhecidos, foram me buscar no curso para me levar até a rodoviária. Tinha me programado para voltar ao hotel, tomar um banho, pegar a mala e ir para rodoviária, porém já eram 18:15h e eu deveria chegar à rodoviária às 18:30h, sendo assim cheguei ao hotel correndo e pra variar e completar a correria paguei mais um mico ao tentar abrir a porta de vidro do hotel. Tentei puxá-la para um lado e para o outro mas ela não abria, coloquei tod minha força e quase a quebrei, não bastando ela não abrir, havia três homens do lado de dentro fazendo sinais para mim e rindo ao invés de irem abrir a porta que por sinal era só empurrar….Ótimo! Entrei morrendo de vergonha, subi para buscar minhas malas rindo e falando sozinha como eu erra “inteligente”. Desci rapidamente e me levaram a rodoviária.
Chegando lá me despedi deles, a moça foi comigo até o ônibus e preocupada se eu não perderia o ônibus de Campinas às 20:00 foi até o motorista do ônibus circular e o perguntou quanto tempo levaria até chegar lá. Ele mal a respondeu, apenas disse que levaria 40 minutos no máximo e ela ainda disse à ele do horário do último ônibus que pegaria em Campinas. Bom, se ele levaria 40 minutos até chegar lá e sairia às 19h, eu teria 20 minutos para comprar a passagem na rodoviária de lá então estava tranquila. Me despedi e a agradeci mais uma vez por sua disponibilidade, por me acolher tão bem e me auxiliar tanto. 35 minutos depois já estávamos em Campinas, passamos ao lado da rodoviária mas ele não parou lá, parou em um ponto, desceu do ônibus e disse que iria para rodoviária dali 15 minutos, ou seja, saíria de lá às 20:00h ou 19:55h! Fiquei apavorada pois estava em uma cidade que não conhecia, não tinha nenhum conhecido por lá e também não tinha condições de ficar em um hotel caso perdesse o ônibus, simplesmente não sabia o que fazer por algunas segundos. Rapidamente me veio a ideia de procurar um Uber, acessi o aplicativo e graças a Deus tinha. Fui até a janela para pedir ao motorista que abrisse a porta do ônibus para mim mas ele estava longe, havia então uma pessoa na calçada e perguntei a ele se aquele era o motorista do ônibus, ele grosseiramente e gesticulando muito me respondeu que não sabia “não sei, não sei”, pedi então que ele o chamasse mas simplesmente virou para mim e disse que não iria chamar! Fiquei abismada com tamanha falta de educação das pessoas!!! O motorista veio com uma cara super mal humorada e perguntou o que eu queria, pedi a ele que abrisse a porta por favor. Ele subiu com uma super má vontade e abriu a porta para mim. Sete minutos depois (19:45h mais ou menos) o Uber chegou. Para minha sorte o motorista era educado e simpático. Explicando à ele minha situação, o mesmo me disse que o motorista do ônibus havia parado à apenas dois quarteirões da rodoviária só que eu não conseguiria chegar a pé até lá à tempo ainda mais carregando uma mala sozinha e com dor na perna. Um trânsito gigantesco e chegamos em 5 minutos à rodoviária, agradeci e desci super rápido.
Chegando à rodoviária fiquei meio assustada, ela é o dobro da Rodoviária de Ribeirão e eu achei que iria me perder. Subi a escada rolante e vi um saguão enorme, corri até os guichês morrendo de medo de tropeçar e cair pois ainda não controlo uma passada rápida mas todo cuidado foi pouco e foi o que aconteceu. Me enrosquei na mala, na blusa que estava pendurada e na outra bolsa e acabei me “esparramando” no chão. Fiquei verde, azul, vermelha, roxa, cor-de-rosa de tanta vergonha e com certeza alguém viu, mas nem olhei para o lado e me levantei. Não machuquei, mas meus olhos se encheram de lágrimas pois estava preocupada se perderia ou não o ônibus e só conseguia pensar se aquilo realmente estava acontecendo comigo, apesar de no fundo se não fosse trágico eu estaria dando gargalhadas pelo tombo espetacular em público. Cheguei ao guichê com lágrimas nos olhos e perguntei a moça se poderia comprar passagem ainda para o ônibus das 20:00h e antes mesmo que me respondesse disse à ela: “por favor, diz que sim!”. Acho que ela interpretou o meu desespero e me vendeu a passagem, perguntei se era longe, ela me mostrou o caminho e disse para eu ir o mais rápido possível pois ele estava pronta para sair, disse à ela que estava machucada e que não poderia correr mas iria o mais rápido possível. Apertei o passo rezando para que não caísse de novo, achasse logo a plataforma e que o ônibus estivesse lá. Descendo a escada rolante com tamanho desespero fui olhar qual era a plataforma e quando vi que era nº 31 e o ônibus tinha acabado de sair, as lágrimas queriam escorrer mas me segurei.
Vi um moço da empresa parado atrás do vidro e corri até ele, bati no vidro várias vezes, gritei e ele não me escutava e nem olhava para mim. Olhei para os lados e vi pessoas me olhando pois eu devia estar com a cara mais louca do universo. Gritei de novo o moço, bati insistentemente no vidro até que ele me olhou. Perguntei se o ônibus para Ribeirão já havia saído e ele disse para eu entrar, procurei porta para tudo quanto é lado no vidro e não achava. Precisei me acalmar, achei a porta e perguntei à ele: “moço o ônibus já saiu? Fala que não!” ele então apontou ônibus parado e me disse que era aquele, pediu para me acalmar porque pessoal lá de cima havia avisado para esperarem e estavam me esperando, só não dei um abraço nele por que tava cheia de malas mas agradeci muito e fui até o motorista para que ele guardasse minha mala. Entreguei a passagem, ele me olhou com cara de bravo e disse para eu preencher a passagem. Perguntei se ele tinha uma caneta e ele simplesmente me ignorou, eu já estava sensível, fiquei além de chateada, brava e com ainda mais vontade de chorar. Não bastando todo esse desconforto, quando um outro funcionário da empresa se aproximou ele super irritado disse: “O pessoal lá de cima tem que vender a passagem até 20 para 20:00h porque se não fica essa bagunça..”, ele falou para o moço mas senti que foi diretamente para mim. Infelizmente eu não tenho coragem de responder, mas eu deveria ter dito à ele que não tenho culpa do seu mau humor, do seu estresse, do seu cansaço pois eu também estava cansado e que aquele era o último ônibus para eu chegar em casa. Me deu vontade de falar mas não falei, entrei no ônibus aliviada e a primeira coisa que fiz foi ligar para casa pois minha maior preocupação, caso não conseguisse pegar o ônibus, era ligar para casa e dizer que eu não havia conseguido e assim meus pais ficariam desesperados assim como eu, mas deu tudo certo, liguei para casa e falei com meu pai. Ele percebeu que estava com voz de choro e ficou preocupado, contei pra ele os fatos resumidamente e assim ele tentou me acalmar, me disse que estava tudo bem, para eu ficar tranquila e descansar que logo estaria em casa.
Foram três horas e meia de viagem, eu estava faminta além de extremamente cansada e chateada por encontrar tantas pessoas mal humorados, mal educadas que trabalham à serviço de auxiliar as pessoas mas simplesmente acham que estão fazendo um favor e acabam nos tratando mal. Eu sempre sorrio para as pessoas, tento sempre ser gentil e educada e nunca vou me acostumar quando sou tratada totalmente ao contrário, ninguém deveria se acostumar. Com tudo isso me lembrei como é ter que me virar sozinha depois de tanto tempo e que por mais legal que seja ter essa liberdade, é ruim quando a gente se depara com a realidade da falta de educação e solidariedade das pessoas umas com as outras, mas tudo bem, minha parte eu faço e sempre farei. No meio da viagem ele parou em um posto para comer e acabei descendo rapidamente para comprar algo para comer, nada saudável mas que mataria a minha fome e também minha ansiedade e foi por isso que comprei um chocolate, rs. Comi e vim dormindo o restante da viagem.
Cheguei em casa por volta das 23:30h com o corpo até meio mole de tão cansada, mas apesar de tudo feliz e fiz uma coisa que não faria se fosse antigamente, antes do acidente. Mesmo cansada, sem tomar banho e morrendo de vontade de dormir, sentei e conversei com meu pai pois minha mãe tinha viajado. Contei à ele todos os detalhes, todos os momentos, minhas alegrias e os momentos de mais dificuldade e de como estava feliz por estar retomando minha vida. Após conversarmos tomei um banho e finalmente dormi em minha cama.
Foi um curso super produtivo, interessante e além de tudo me senti de volta ao mundo da ginástica. Senti também que consigo me virar sozinha mesmo tendo certas dificuldades para me locomover, senti pela primeira vez após 3 anos que eu posso realmente recomeçar a minha vida e correr atrás dos meus objetivos de novo. Senti que dou conta, que sou capaz e que nada pode me impedir se eu realmente quiser e for à luta.
O que tenho para dizer dessa viagem, dessa “nova” experiência (de novo), de viajar sozinha, é que mesmo já sendo adulta meus pais sempre irão se preocupar comigo, sempre irão buscar a forma mais segura em qualquer lugar que eu estiver ou vá e que também, existem pessoas que são como anjos em nossa vida, que não tem obrigação nenhuma de fazer boas ações mas fazem sem querer nada em troca, então deixo aqui registrado a minha gratidão à Flávia e o Alexandre por me acolherem e me ajudarem tanto, dando segurança, respaldo e tranquilidade à mim e aos meus pais e o melhor de tudo nessa viagem foi fortalecer ainda mais a minha paixão pela ginástica e a certeza de que naõ devo desistir dessa paixão mesmo após desilusões e momentos em que pensei em teria que abandonar e desistir desse meu sonho. Não consigo me ver fazendo outra coisa então, mesmo com limitações físicas e mesmo sendo tão difícil, não vou desistir. Posso percorrer um caminho longo com muitos obstáculos mas vou lutar pelo meu espaço e pelo meu sonho e se Deus quiser, porque eu quero e acredito, virão muitas conquistas.